Dia desses, e conversando com uma pessoa que reclamava de uma empresa pela demora na entrega do que havia prometido, e para ajudar a que compreendesse a questão, perguntamos para ela sobre os motivos desta morosidade. Mas antes que iniciasse a responder, e para que tivesse um maior entendimento do problema, trouxemos um outro caso, sobre a lentidão dos serviços públicos. Depois de uma rápida análise, concordou que, no que se referia à rapidez do atendimento, o setor privado respondia mais prontamente, quando até serviu de consolo ao reclamante. Qual poderia ser então, num mesmo país, e que fala a mesma língua e tem a mesma história, a razão de tamanha disparidade na finalização de suas transações?
Algumas causas da demora de atendimento aos pedidos daqueles que necessitam dos serviços destas empresas ou organizações, depois de uma rápida digressão, são possíveis de encontrar. Poderia ser o tamanho da organização onde se está adquirindo produtos ou serviços, pois quanto maiores forem os organismos sociais, também maior é a tendência de demora na resposta. Pode ser, por outro lado, a relação de emprego ou trabalho das pessoas que nelas trabalham, pois se elas estão asseguradas em seus postos de trabalho, a conhecida estabilidade no emprego, naturalmente que a morosidade tende a ser uma realidade. Outra resposta possível para um demorada resposta às nossas demandas, é aquela organização que tem o monopólio de produtos e serviços, quando impõe suas condições, sem poder ser questionada sobre o que realiza ou oferta. E para o nosso já conhecido reclamante, aquele da introdução deste texto, aproveitamos a oportunidade para acalmá-lo, dizendo que para tudo há solução na vida, bastando uma ação decidida para a resolução das questões, quando trouxemos apenas dois exemplos: porque não poderiam haver duas, três, quatro prefeituras disputando os impostos do eleitor? E para os poupadores, porque se proíbe a abertura de pequenos bancos locais municipais?
Contudo, tendo em nossa sociedade genericamente esses dois tipos de organismos sociais, podendo ser públicas e privadas, e na análise das razões pelas quais respondem mais rápida ou demoradamente ao que são solicitados, percebemos um outro aspecto interessante (aqui deixamos de tratar das empresas do terceiro setor). O que detectamos foi a forma como trabalham as questões que lhes são apresentadas, quando a situação que se apresenta é a seguinte: as empresas públicas, bem sabemos, são geridas por políticos, e as empresas privadas, por pessoas particulares, ‘’privadas’’. E daí perguntamos, como trabalham as empresas públicas e como trabalham as empresas privadas, quando são solicitadas a atenderem os nossos pedidos?
Individualmente todos somos ‘’privados’’, a iniciar por nossos lares. Administramos particularmente os nossos cartões de crédito, o pagamento de contas de água, energia elétrica, sem qualquer interferência do governo; compramos, substituímos, trocamos, levantamos cedo para chegar ao serviço (para que se tenha ao final do mês a remuneração pelo salário), substituímos o pneu careca do carro (para poder chegar ao serviço, para receber o salário ao final do mês), tudo isso para que a vida transcorra normalmente. E caso deixarmos de assumir os nossos compromissos e as opções, demorando em dar boas e imediatas respostas, bem, a partir daí, iniciamos a ter dificuldades. Esta forma de administrar a vida na forma individual, particular, também se estende agora para as empresas ou para os organismos sociais, entendidos como aqueles da iniciativa privada. Em outras palavras, a forma como trabalham, assim como cada um individualmente, é pelo atendimento de metas: tem metas de pagamento de energia elétrica, de realizar reparos elétricos imediatos sob pena de causar maiores estragos, metas de pagar salários e encargos públicos, tem metas de lucro, etc. Metas, metas, metas.
Conclui-se então que o organismo social privado ou as pessoas, particularmente, segundo o parágrafo anterior, são movidas por metas. E agora, como são movidas ou trabalham as organizações públicas? Antes fora dito que as empresas criadas e geridas pelo poder público são uma extensão da classe política e, quem nelas trabalha, genericamente, tem a mesma orientação, podendo até ser partidária. Na iniciativa privada, as organizações são criadas pelo esforço repetido de anos à fio, sem apoio de qualquer quem seja e sempre convivendo com o risco de quebrar, constituindo-se de um grande desafio, e até podendo ser um sofrimento de longos anos dada a multidão de adversidades a serem ultrapassadas. Por isso, tentar atender rapidamente a um pedido é condição para ser demandado mais um vez, logo em seguida, o que lhe aumenta os lucros, e dá longevidade. As metas são, por isso, os olhos fixos no horizonte para ajudar a esquecer um pouco da multidão diária de dificuldades.
Iniciando a responder aquela pergunta em um dos parágrafos anteriores, dizemos então que as organizações público-políticas se movem ou são movidas, e diferentemente daquelas da iniciativa privada, apenas por pressão, por pressão (E fazendo um parêntesis na construção deste argumento, o interessante é que, mesmo que individualmente as pessoas administram suas questões de forma privada, quando estão laborando nas organizações públicas, agem na maioria das vezes de forma muito diferente, respeitadas as exceções). Porque o poder público se constitui pelo voto, e o voto é intrinsecamente volátil, sempre instável, e suscetível aos humores das pessoas votantes daquele determinado momento histórico, as organizações públicas geradas a partir destas características são o espelho exato desta realidade. Quer dizer, a movimentação das organizações ou empresas públicas em atenção aos nossos pedidos dar-se-á somente segundo os seus humores e, os humores, bem sabiamente, estão no campo das emoções. Este é o padrão de atendimento, e assim se comporta a organização pública: somente trabalha por pressão, e ser pressionado é um ataque direto ao emocional das pessoas! Então, e para retirá-las da inercia pela inexistência de metas, as ações que lhes farão movimentar estarão à semelhança do seu entendimento, ou de como ”se percebem”, quando tomarão ações somente quando instigadas por elementos emotivos, mais conhecidos por ‘’pressão’’ e que significa, nós, os contribuintes, devendo demandar atendimento deles com insistência, insistência, podendo até ser por constrangimento se demorar a resposta, de sorte que a outra parte vexame-se pela aflição e angústia que lhe impomos. Se não há meta, então deverá ser pela pressão! À bem da verdade, Brasília somente trabalha por pressão, aqui em Alvorada também!
Apresentadas os dois tipos de razão de movimentação e que fazem as organizações privadas e público-políticos trabalharem, responderem e apresentarem resultados ao meio para o qual vieram, vai a sugestão de leitura do livro ‘’Ensinando o elefante a dançar’’, porque para sobreviver, sendo pressionados pelas metas ou até mesmo colocados contra a parede pela pressão, já que as organizações públicas também estão sendo privatizadas, ‘’o grito de alerta é – mude ou morra’’ (*).
Luiz Pfluck – diretor e professor
(*) Belasco. James A. Ensinando o elefante a dançar. Rio de Janeiro : Elsevier, 2005, pág. 21.